Há uns dias, durante um zapping noturno, ao passar pela Globo, uma imagem desta menina prendeu-me a atenção. O facto de ter trissomia, por si só já era motivo para passar a assistir à novela, mas o que me fez ficar mesmo colada à televisão foram as palavras que começaram a ecoar na minha cabeça, fazendo-se de repente tão presentes.
Quando me confirmaram o diagnóstico da minha filha, algures no meio da conversa (ou monólogo), perguntaram-me se eu me lembrava de uma novela brasileira em que uma das protagonistas era uma criança com Síndrome de Down. Segundo o geneticista, essa criança representaria o que de melhor se pode esperar da trissomia. Com sorte, talvez a nossa filha se pudesse aproximar desse patamar, embora fosse muito difícil, pois é um caso de trissomia simples, ao contrário da menina da novela, que não teria todas as células “afetadas” pelo cromossoma extra (desconheço a veracidade da afirmação).
Nunca tive curiosidade em saber mais sobre este “prodígio” da trissomia. Mas agora que tropecei na novela, é impossível não me deliciar com cada cena em que aparece a “Clara”. Hoje sei que aquela menina teve que se esforçar muito para estar ali, pelo que só posso admirá-la e valorizar o seu trabalho. Certamente teve a seu lado alguém que riu, chorou, se desesperou muitas vezes, mas que, acima de tudo, acreditou. Só espero que tenha sido feliz em todo este percurso.
E pouco me importa se a minha filha será “melhor” ou “pior”, se é que se podem usar estes termos. Talvez precisemos de sorte, como dizia o geneticista, e ela até tem estado do nosso lado, porque a nossa menina tem sido bastante saudável. O resto é feito de amor e estímulo, perseverança e muita fé. Se há lição que aprendi desde o dia em que a trissomia cruzou a minha vida é que tudo se torna muito mais simples quando nos deixamos de comparações.
Não faço ideia se isto é o melhor que podemos esperar da trissomia, mas sei que isto prova que um diagnóstico não faz um destino. E é a essa certeza que me agarro todos os dias.